Vamos fazer umas críticas, mas, pontuais e com os devidos detalhes que eu considero importantes. Eu sou uma das pessoas que fez críticas sobre as notícias do tratamento de saúde do ex-presidente Lula.
Antes de mais nada quero dizer que não passa pela minha cabeça a idéia de tripudiar da saúde de uma pessoa que vai se tratar do mesmo mal que matou o meu pai há anos. Eu sei bem o sofrimento que isso representa e a impressionante e contínua ansiedade, tanto do paciente quando da família. Não desejo isso a ninguem, nem ao Lula, em que pese eu ser anti-lulista de carteirinha. Vou dividir o meu pensamento sobre esse tema em partes, que seguem abaixo.
A respeito do Lula específicamente, o que eu não gosto nem um pouco nessa situação são os evidentes procedimentos adotados. Há poucos anos José Sarney passou por uma avaliação no Incor. Ele tem, assim como Lula, acesso a atendimento médico diferenciado. Mas o que eu não consigo entender num caso desses é justamente o fato de ele, que é dono de uma parte do Maranhão e conhecidamente influente na política, vir a um estado distante do seu porque aqui o tratamento está à altura das suas necessidades. Ora, então porque ele, com toda a força que tem, não promoveu uma assistencia médica no seu próprio estado, tal que, eliminasse a necessidade de ir a outro centro distante? Vamos nos lembrar que aquilo que não está disponível para ele, também não está para o restante da população que sequer tem meios próprios de locomoção.
Olhando para isso pela ótica da política, entendo que o Brasil anda ainda no tempo do feudo. Em relação ao Lula específicamente, assistimos uma aproximação muito grande com Fidel e Chavez, e seus outros companheiros de luta, de forma tal que ficou muito evidente um alinhamento ideológico que nunca aconteceu no Brasil. É como se Lula literalmente aprovasse Cuba e seus mandantes como são e estão.
Sabemos que em Cuba há assistencia médica para todos (ou houve realmente algum dia), e as fotos veiculadas de doentes em hospitais imundos são no mínimo duvidosas. Mas há de se ter em mente que um país nas condições de Cuba não tem como oferecer coisas que estão à nossa disposição numa estrutura como as Clínicas, um centro que atende até estrangeiros da America do Sul, tal é a sua abrangencia e capacitação.
Eu entendo que essa imagem que Lula deixou de alinhamento com o governo cubano, mais o pronunciamento favorável a este governo no caso de presos políticos, remete a uma valorização daquele estado, seus métodos e sua estrutura. E no Brasil, muito embora haja grupos comunistas, históricamente esse regime não tem nada a ver com o nosso país. Penso que o que de fato representa o Brasil deve ser valorizado antes de tudo e isso não significa xenofobia e sim um tipo de reconhecimento racional daquilo que somos e temos.
Assim como Dilma, Lula não apenas rendeu notícia na mídia, como também não se preocupou com a exposição continuada da sua imagem. Considero isso negativo pois tomo como exemplo o finado vice-presidente José de Alencar que teve o seu mal e tratamento noticiado continuamente, mas sem alarde. E mais que isso, a situação dele foi muito grave e penosa. E ele mesmo não fez nenhuma questão de expor os efeitos disso tudo e limitou-se a dar entrevistas quando procurado.
Já Lula está vendo a sua imagem e declarações circularem à vontade e com a sua aprovação, já que em nenhum momento reprovou essa atitude. É uma situação que considero incoerente pois eu não vejo nenhum mérito em se expor as condições de uma coisa que é conhecidamente dramática e triste, e sim vejo nisso uma clara valorização do ego.
E eu pergunto se o ego dos milhões de cidadãos dependentes do SUS é parte do prontuário ou das considerações do sistema. Aí, nisso tudo, eu sinto uma diferenciação maior do que seria considerado saudável, entre uma figura pública que já deixou o seu cargo e as fileiras de cidadãos brasileiros que são nada mais que números de um sistema.
É nessas horas que eu pergunto porque uma pessoa dessas não se trata em Cuba, já que lá é um lugar que merece tanta aprovação. A resposta é simples. É porque aqui é o lugar acertado, é aqui que a coisa funciona mesmo. E há que se lembrar que a dita coisa que funciona não foi inventada pelo PT e nem passou a funcionar por conta do PT e do Lula. Vejo isso tudo como uma contradição desnecessária.
Sinceramente, desejo ao ex-presidente uma recuperação total porque tenho consciencia do sofrimento que isso representa e não tenho o ímpeto de desejar que alguem seja penalizado dessa forma porque não o aprovo do ponto de vista político.
Um outro ponto que é preciso deixar claro é em relação à população em si. Esta na verdade em nada colabora para que o sistema seja suficiente. O brasileiro ainda continua com o sonho de que um governo resolverá a sua vida. Isso é fruto do infeliz clientelismo da nossa política suja e podre. Posso dizer por experiancia própria que a maioria da população pobre procura o sistema de saúde para se salvar. Os usuários não comparecem num posto de saúde, hospital ou pronto socorro da rede pública, apenas com dor em algum lugar ou mal estar. Eles levam junto as suas ansiedades de cidadão. Digo isso porque vi e mais ainda, afirmo que o PT já fez no passado campanha com a população no sentido de desinformar, com objetivos claramente atrelados a interesses políticos num autentico espírito de corpo.
Fora isso o brasileiro é um notório indisciplinado e inconsequente. Os motoboys, os alcoolatras, os que não medem consequencias nos seus hábitos como os que engravidam suas mulheres continuamente, são um peso a mais a ser suportado por um sistema que lida unicamente com ônus e também com uma falta de compreenção que resulta em desdobramentos que mais tarde gerarão outros atendimentos no sistema.
O estado em si também tem a sua parcela de responsabilidade no contexto quando é sabido que o saneamento básico no país ainda é ausente em muitos municípios. É demais esperar que um morador das margens do Amazonas possa contar com água encanada e esgoto. Mas, ao menos segundo o que se fala dos progressos obtidos nos diversos municípios nos ultimos anos, fica complicado entender porque muitos ainda não podem contar com uma coisa que deixaria de levar muita gente ao pronto-socorro, hospital ou ambulatório. Isso é um custo gerado pela ineficiencia. Somos gigantes para ter uma camada pré sal, que é o assunto do momento, ao mesmo tempo que essa mesma economia que absorve tsunamis como marolas, não consegue realizar o básico. É uma discrepancia que custa aceitar facilmente.
O SUS específicamente, não é a maior maravilha do planeta mas sabe-se que é bem melhor que as nossas antigas estruturas de assistencia médica do passado. O SUS é capaz de atender uma grande quantidade de usuários e realizar procedimentos que antigamente não estavam disponíveis da mesma forma que hoje. Sei de relatos de pessoas que necessitaram do sistema e foram atendidos de forma eficiente, muito embora totalmente padronizada. E não se pode esperar de uma estrutura pública com tal abrangencia, que atenda os seus pacientes da mesma forma como certos convenios de milionários são capazes de atender como se fossem um tipo de spa. A medicina é uma atividade incrivelmente onerosa e a gratuidade significa um acesso a um serviço que a maioria não teria como pagar e portanto acabaria morrendo por falta de atendimento. Isso não é coisa que se despreze. Mas que se lembre também que a corrupção impera no sistema de saúde e eu já ouvi relatos bem claros de quem tem ligação com o meio. Há corrupção e isso torna as coisas bem mais caras do que devem ser.
Também é preciso considerar o que esse sistema atende. A estrutura de saúde pública de um estado como São Paulo é farta mas muito sobrecarregada.Se num lugar como Clínicas, são atendidos estrangeiros do continente, é sensato considerar que isso significa alguem que paga impostos aqui deixou de ser atendido em algum momento. Uma coisa é voce ter uma estrutura inadequada, outra é voce ter uma demanda que nao acaba, que apenas cresce até tornar o sistema caótico às vezes.
Fui hoje a uma undiade do SUS perguntar sobre gratuidade de medicamentos para um idoso. Existe e preciso voltar lá com o receituário, bastanto a carteirinha do paciente, indo diretamente na farmácia. Gratuidade é uma coisa relativamente recente no país. Ao menos no nível que se encontra hoje. E se há gratuidade é porque há necessitados que não podem pagar, e estes são uma autentica legião. Tudo isso são custos que tendem apenas a crescer, tendo em vista o crescimento populacional e o aumento constante da expectativa de vida. É o sistema que arca com tudo isso e mesmo assim funciona.
E finalmente há a mídia nessa questão do Lula. Tudo que ele faz, diz, ou tudo que acontece com ele é noticiado e se puder ser fonte de polemica será utilizado assim. A nossa mídia não pensa nem um segundo para dar exposição exagerada e transformar uma notícia num verdadeiro romance. Ela é assim porque o mesmo público que se utiliza do SUS, lê e acredita em qualquer coisa que a mídia veicule. A ordem é faturar e isso não tem qualquer relação com moral. O que puder ser obtido de retorno financeiro nessas situações, justifica qualquer coisa. E inclua-se nisso a competição entre os veículos de mídia que dão cada um a interpretação que mais interessa, e isso acaba ficando acima da informação. E acaba gerando algum tipo de consciencia em relação aos diversos temas noticiados.
Eu, no presente momento da vida, estou passando por grandes dificuldades com a saúde de um familiar. A recuperação dessa pessoa me custou o meu trabalho, 5 kgs de peso e um grande stress. Como essa pessoa tem o seu plano de saúde, o atendimento foi imediato. Mas infelizmente eu levei um paciente e retornei com outro, e sou eu quem cuida dele agora. Como não tenho substituto para essa tarefa, no meu caso a dedicação é tempo integral. E a isso some-se as decorrencias de uma situação dessas.
Em certos momentos senti um sensação de solidão e impotencia, incomuns na minha vida. Coisas que nenhum hospital trataria. Mas eu mesmo não tenho um plano de saúde e percebi um enfraquecimento tão grande que, apesar da minha condição física muito boa, resolvi obter a minha carteira do SUS. Afinal, algum dia alguem terá que me acompanhar e me examinar. E eu não sei se seria, nas minhas condições financeiras atuais, mais bem atendido em um convenio particular.
O que eu vejo de negativo demais nesse processo do Lula, é o fato de que o atendimento médico no país todo tem as suas variações conforme o lugar, e isso mexe com os brios dos que se sentem obrigados a pagar convenios médicos. Em alguns lugares há mais sobrecarga na saúde pública e em outros menos. Em alguns gente mais bem preparada, em outros funcionários mal educados e politiqueiros. Por mais que se faça não é possível num país como o nosso manter um atendimento de alto nível de cima abaixo. E isso gera os devidos descontentamentos.
A parcela da população que paga convenios particulares, desonera o sistema mas arca com esse e outros custos ditados pela política. Falo de juros, impostos, seguros pagos por falta de segurança pública, escolas particulares que educam mas cobram muito alto, e assim por diante.
E isso desemboca sempre num ponto relacionado à satisfação pessoal. No dia em que voce precisar de assistencia médica pública, por falta de opção, vai ficar muito descontente ou até raivoso com a fila que talvez tenha que enfrentar. Ao mesmo tempo os figurões do país furam todas as filas e ainda por cima são noticiados, e caso se curem darão entrevistas sorridentes.
Isso é coisa que mexe no orgulho das pessoas. E é isso mesmo que ficou em jogo nessa questão do Lula. Ego inflado e devidamente exposto pela mídia, e pessoas que estão exaustas de pagar o custo Brasil e mesmo assim necessitam contratar aquilo que o estado já lhes cobra. Aqui nesse caso falo específicamente de saúde, segurança e educação. A segurança dá medo, a educação dá nojo, e a saúde pode nos apavorar em determinadas situações específicas.
Gostaria de saber se o SUS de Cuba é tão bom quanto o nosso, se Chavez foi se tratar lá porque é melhor que aqui, e se o ex-presidente que veio das camadas de baixo estaria disposto a ser tratado na oncologia das Clínicas, que tratou o meu pai e muito bem.
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