O Estado de São Paulo de hoje traz uma matéria na seção de esportes sobre a São Silvestre. Fiz essa prova apenas uma vez há 14 anos. Na matéria há uma ilustração em 3D do percurso onde são mostradas diferenças de altitude e um mapa com as marcações de distancia. Olhei aquilo e pensei “Caramba, eu já fiz essa prova e ainda tenho vontade de fazer de novo”.
O coordenador da prova, Manuel Garcia Arroio dá umas dicas para os amadores e no final faz um comentário certeiro: “É ali que se separam homens de meninos”, referindo-se ao início da subida da Brigadeiro Luiz Antonio.
Quando me motivei a participar da prova, estava com 40 anos completos. Sou uma pessoa que praticou esportes desde a adolescência e tinha parado aos 30 por conta de uma contusão numa piscina. Havia nadado uns 500 mts de crawl e resolvi mudar para butterfly. Numa braçada afundei demais e fiz um esforço muito grande para voltar à superfície e dobrei muito o corpo para trás. Senti uma fisgada nas costas mas o corpo estava quente e prossegui. No dia seguinte não conseguia permanecer ereto. Foi o meu último treino de natação.
Mais tarde a inatividade deu o seu primeiro sinal significativo – eu não conseguia ficar parado, me incomodava. Então comecei a correr, mas sempre com a intenção de manter a forma apenas. E um dia achei aquilo enfadonho e resolvi participar de uma São Silvestre. Não é fácil, é uma prova de 15 km que acaba numa subida. Mesmo não sendo um profissional posso garantir que não é qualquer um que se aventura. É preciso um preparo mínimo e realizado durante um tempo longo.
Normalmente os aventureiros incorrem em três erros básicos. Se preparam por pouco tempo, não são praticantes assíduos das corridas e deixam para as últimas semanas uma coisa que deveriam ter feito durante todo o ano. Segundo, ao descerem a Consolação, o primeiro trecho da prova, o fazem muito acelerado pensando que para baixo todo santo ajuda. Aí os joelhos podem pagar o pato porque o impacto em descida é grande. Terceiro, não conseguem administrar o ritmo e ao se cansarem acabam tomando mais água do que deve, coisa que o metabolismo responde rápidamente na bexiga, o que pode dar origem a dores muito incomodas ou até ao abandono.
Na minha única participação largaram 12000 pessoas e eu terminei a prova no primeiro terço. Não me lembro da exata colocação, mas para as minhas condições na época foi uma experiencia satisfatória ainda mais considerando-se que foi a minha única participação no atletismo.
O primeiro erro que eu cometi foi descer a Consolação muito devagar para poupar os joelhos. Poderia ter ido mais rápido. Mas ali no início da descida já pude entender claramente o que significava um atleta de alto rendimento no atletismo. Eu larguei no terceiro pelotão, aproximadamente a uns 300 metros da ponta. Ao virar na Consolação os ponteiros já tinham virado à esquerda lá embaixo. Até dei risada da situação. Achei que tivessem turbinas nos pés.
Controlei o meu ritmo da forma mais próxima possivel dos meus treinamentos. Aí é que entra a justificativa de um preparo de longo prazo. Adquirir ritmo controlado em trenios longos é um tipo de condicionamento que um amador demora para alcançar.
No final da prova passamos pela Líbero Badaró e entramos na Brigadeiro. Alí há uma coisa interessante. A prova masculina sucede a feminina e quando se chega nesse local já se cumpriram 12km de prova e o suor já molhou o corpo todo. Como ali há uma profusão de prédios, forma-se um corredor de ar que faz voce sentir frio porque já é final de tarde.
Então chega a separação entre homens e meninos. Se você conseguiu dosar bem o teu ritmo conforme os trechos do percurso, o que implica em não variar demais o ritmo, então está em condições de subir a Brigadeiro. Mas se não fez isso vai entrar na fila dos que sobem andando ou os que desistem. Eu subi correndo em ritmo mais lento mas não foi fácil.
Quando ingressei na Brigadeiro não vi a subida própriamente dita mas sim algo parecido com o Everest. Achei que tivessem mudado a prova de atletismo para alpinismo.
Fiquei em dúvida se conseguiria e por isso resolvi olhar para o chão e me concentrar nas passadas e no ritmo cardíaco. Quando passei sob o viaduto da 13 de Maio olhei para trás e vi que tinha feito metade da subida (correndo). Olhando para frente em seguida avistei o trecho final que é de menor aclive. Isso deu um alívio porque entendi que poderia prosseguir. Ao alcançar o último quarteirão me senti mais aliviado ainda porque o trecho seguinte é plano, a Paulista. Pensei que bastava apenas continuar no mesmo ritmo e chegaria no final normalmente. Mas para minha surpresa eu descobri que a prova acabava logo depois. A largada é em frente ao Masp e a chegada em frente à Gazeta. O trecho da Paulista que eu pensei que teria que cumprir, na verdade não existia na prova, era menor.
Fiquei alegre ao ver o enorme portal de chegada com um relógio digital. Dá uma sensação de satisfação considerável saber que você conseguiu cumprir o percurso e que o ano de treinamento fez o efeito esperado, tanto física como mentalmente também. E ao cruzar a linha de chegada uma medalha de participação. Percebi naquele dia que poderia prosseguir no atletismo amador, mas infelizmente abandonei o treinamentos por muitas razões que hoje considero injustificadas.
Gostaria de voltar a participar dessa prova. Fiz umas corridinhas bem light nos últimos dias e me senti bem. Poucas dores e recuperação pós-treino satisfatória. Aparentemente estou em condições de recuperar a velha forma, mas ainda não dá para tirar uma conclusão e com certeza não será fácil.
Vamos ver. Há um ano inteiro para isso.
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